terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Professor sofre!


Mais uma vez as “reformas” rondam as escolas e novas polêmicas surgem. A Secretaria de Educação planeja mudanças que atingem o âmbito administrativo, muitas vezes trazendo prejuízos incalculáveis aos trabalhadores em educação que militam em sala de aula. Dentre as propostas apresentadas pouco se percebe de ações que visem mudanças na prática docente, pois mais uma vez a sala de aula fica à margem das preocupações das autoridades. O foco principal é, mais uma vez, o aspecto administrativo.
Ao longo do tempo os professores foram submetidos a uma série de “reciclagens”, “treinamentos” e outras ações que os reduziram a meros objetos da vontade do administrador. Nunca é dada ao professor a oportunidade de manifestar-se sobre o que está sendo proposto. Muitas “autoridades”, que nunca passaram por uma sala de aula, impõem suas “reformas” sem abrir espaço para o diálogo com professores e alunos que são os verdadeiros sujeitos dessa história.
Ao serem submetidos às “reciclagens” na década de setenta, os professores ouviram “autoridades” dizer que os conteúdos não interessavam, pois a prática docente deveria privilegiar a metodologia. O resultado foi o caos que presenciamos nas décadas seguintes, os pais culpando os professores por não “ensinarem”, mas ninguém lembrou que o descalabro era oriundo de equivocada postura pedagógica.
Mais tarde outra novidade assolou nossas escolas: “educação por objetivos”. Nada contra o caráter objetivo da ação docente! O problema é que os meios assumiram valor maior do que os fins. Muitas horas de trabalho foram perdidas na confecção e controle de mapas de registro de objetivos. As estatísticas, com gráficos complexos foram mais importantes do que os conteúdos desenvolvidos ou não. Os professores sofreram, entregaram longos relatórios, com gráficos e pareceres sobre cada turma, cada aluno, cada objetivo, atingido ou não. Infelizmente, todas as informações pararam nas gavetas das coordenações, não receberam dos administradores estudos correspondentes e, muito menos, ações capazes de sanar deficiências.
Não é só na área pedagógica que o professor sofre. O professor está sempre na linha de frente no enfrentamento com o aluno, pois é lá na sala de aula que os problemas surgem, porém as soluções são alheias aos seus direitos. Muitos interferem na relação professor/aluno na hora de administrar os conflitos, fazendo prevalecer versões distanciadas da verdade. Nestes conflitos, os professores são sempre os réus e os alunos vítimas. Ninguém percebe que alunos e professores são seres humanos iguais, com erros e acertos.
Qualquer reforma em educação passa pela valorização do professor como agente do processo ensino/aprendizagem, pois é fundamental que ele seja ouvido e respeitado em seus direitos e reconhecido como cidadão consciente e atuante na comunidade. Somente ocorrerá uma reforma profunda e permanente quando a experiência do professor fizer parte das propostas da administração. No momento em que se fala tanto em inclusão, está no hora de incluir o professor na construção de seu próprio destino.
Os professores que estão em sala de aula sabem de que falei, os que nunca sentiram o prazer da relação professor/aluno no processo diário da ação docente, com certeza, não sabem das atrocidades a que os mestres são submetidos. Todos são “especialistas” em educação, menos o professor que está na função docente.

2 comentários:

Ederson Otharan disse...

Quem trabalha em sala de aula sabe que estamos cada vez induzidos a produzirmos números e depois resultado, a quantidade de informações e dados para preencher as estatísticas deve ser produto de estudo. Logo o governo fará cursos para os professores calcularem por metro quadrado as aprovações de seus alunos. E agora a escola que reprova ainda perde o apoio de empresas como bancos, caso seus índices de aprovação não sejam satisfatórios. A ordem é aprovar e se o projeto da Governadora passar, bom aí segurem-se quem puder. E no âmbito federal...
A última notícia sobre o ensino é a de que menos professores se graduaram em Licenciatura ano passado. As medidas do governo(Plano de Desenvolvimento da Educação)para sanar esse desequilíbrio numérico em suas estatísticas é a mesma de outros anos, expandir as universidades treinar professores da maneira que todos já conhecemos e criar a bolsa para iniciação à docência. Essas medidas são inócuas quanto ao real fator de desinteresse por qualquer pessoa que tenha filhos ou queira um futuro melhor, constituir família viajar, comprar livros, ter reconhecimento por sua profissão, etc.
Pesquisadores da área de educação afirmam que a falta de interesse em ser professor ocorre principalmente em razão dos a baixos salários pagos no magistério e à pouca valorização social da carreira.
A solução me parece ridícula, na Universidade o aluno ganha meia bolsa e quando se forma talvez ganhe bolsa integral, que é como podemos chamar o salário base dos professores. Apenas um auxílio para quem for desprendido de valores materiais e trabalhe por vocação divina.

Éderson Otharan

Odiombar Rodrigues disse...

É isso aí Éderson, a novela continua e os governos cada vez mais desorientados sobre a educação.