segunda-feira, 18 de março de 2013

Nota dez em política


Todos estão espantados com o fato de redações do ENEM receberem pontuação máxima com diversos erros de gramática. Isto não me é novidade. Quando o documento com os critérios de correção das redações foi publicado, pude perceber que havia um “furo” ideológico. Poucas pessoas levaram a sério a advertência, mas não deixei de alertar os alunos sobre tal disparate.
Quem lê a grade de correção percebe a armadilha:
a) - No Critério 1 (Demonstrar  domínio da norma  culta da língua  escrita), traz como nota máxima o seguinte critério: “Muito bom domínio da norma culta, com raros desvios gramaticais e de convenções da escrita”. O termo “raros” não é uma medida objetiva, portanto fica em aberto para o alunos cometer erros gramaticais e, mesmo assim, atingir nota máxima em “domínio da norma culta”.
b) – No critério 5 (Elaborar  proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural) a nota máxima é para o aluno que “Elabora proposta específica, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural”. O aluno tem nota máxima neste quesito se defender as políticas de governo.
Combinando os dois critérios, percebemos que o aluno pode cometer “desvios gramaticais” e conseguir nota máxima, desde que apresente “proposta específica” para os problemas socioculturais. Por outro lado, é inútil produzir um texto plenamente de acordo com o padrão culto da linguagem, pois mesmo com “desvios” ele obtém nota máxima. Deduz-se, também que será penalizado o aluno que demonstre pleno domínio linguístico, mas discordar dos “valores humanos” e da “diversidade” imposta pelo governo. É a prevalência da ideologia sobre o conhecimento linguístico.
Quem percebeu isto, não se espanta com a divulgação das redações corrigidas pelo Enem. A banca fio fiel aos critérios estabelecidos pelo MEC – o aluno não necessita provar domínio da linguagem, basta promover as “políticas inclusivas” do governo e alinhar-se aos “politicamente corretos”.
O MEC deixou de lado o conhecimento linguístico e optou pelo reforço da ideologia. Este fato é um acinte a todos que defendem a nossa amada língua portuguesa, bem como “valiosa contribuição” para nos manter na posição de 51º lugar entre 65 países pesquisados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) quanto à leitura.
Os problemas apresentados nas redações como grafias esdrúxulas do tipo: "rasoavel", "enchergar", "trousse" são toleráveis por pedagogos e pseudo-conhecedores da sociolinguística. Tais profissionais defendem os fatores sociais como preponderantes sobre o sistema linguístico. Para eles, a condição socioeconômica do aluno é fator suficiente para a aceitação de desempenho precário em linguagem.
Na área da sintaxe há pérolas como: “"Essas providências, no entanto, não deve (sic) ser expulsão" e "os movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI é (sic)". Se a grafia de palavras do vocabulário ativo apresentam disparates, com certeza, ninguém vai se preocupar com problemas de concordância!
O assunto é tão sério que, se observarmos o que diz o INEP, podemos ter certeza de que tais absurdos são plenamente previstos pela banca corretora e recebem a chancela oficial. Declara uma autoridade do INEP:
“uma redação nota 1.000 deve ser sempre um excelente texto, mesmo que apresente alguns desvios em cada competência avaliada. A tolerância deve-se à consideração, e isto é relevante do ponto de vista pedagógico, de ser o participante do Enem, por definição, um egresso do ensino médio, ainda em processo de letramento na transição para o nível superior”.
O MEC está fechando as portas do futuro para os nossos jovens. Não há como ficar indiferente ao absurdo que vigora no sistema educacional brasileiro. Alguma medida deve ser tomada e, neste caso, o lógico é anular estas correções absurdas e refazer os critérios. O MEC não perde oportunidade de demonstrar a sua incompetência.

Leia mais: O ENEM e os "desvios" gramaticais

2 comentários:

Charles Rodrigo Kehl disse...

Não é de se espantar ou esperar mais de um governo que se mantém no poder através de políticas publicas de financiamento, tenha uma postura ética e imparcial quanto a educação.
Mas fazer o que em um país onde MEC esta acabando com o intelecto nacional e sua população esta mais preocupada com os paredões de um BBB ou com os próximos capítulos de suas novelas.

Odiombar Rodrigues disse...

Olá Charles,

realmente, vivemos uma situação inusitada, tudo desaba e a população está preocupada com o BBB.