Todos estão espantados com o fato de redações do ENEM
receberem pontuação máxima com diversos erros de gramática. Isto não me é
novidade. Quando o documento com os critérios de correção das redações foi
publicado, pude perceber que havia um “furo” ideológico. Poucas pessoas levaram
a sério a advertência, mas não deixei de alertar os alunos sobre tal disparate.
Quem lê a grade de correção percebe a armadilha:
a) - No Critério 1 (Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita), traz como nota máxima o seguinte critério:
“Muito bom domínio da norma culta, com raros desvios gramaticais e de convenções
da escrita”. O termo “raros” não é uma medida objetiva, portanto fica em aberto
para o alunos cometer erros gramaticais e, mesmo assim, atingir nota máxima em “domínio
da norma culta”.
b) – No critério 5 (Elaborar proposta de solução para o problema abordado,
mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade
sociocultural) a nota máxima é para o aluno que “Elabora proposta
específica, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade
sociocultural”. O aluno tem nota máxima neste quesito se defender as políticas
de governo.
Combinando os dois critérios, percebemos que o aluno pode
cometer “desvios gramaticais” e conseguir nota máxima, desde que apresente “proposta
específica” para os problemas socioculturais. Por outro lado, é inútil produzir
um texto plenamente de acordo com o padrão culto da linguagem, pois mesmo com “desvios”
ele obtém nota máxima. Deduz-se, também que será penalizado o aluno que
demonstre pleno domínio linguístico, mas discordar dos “valores humanos” e da “diversidade”
imposta pelo governo. É a prevalência da ideologia sobre o conhecimento
linguístico.
Quem percebeu isto, não se espanta com a divulgação das
redações corrigidas pelo Enem. A banca fio fiel aos critérios estabelecidos
pelo MEC – o aluno não necessita provar domínio da linguagem, basta promover as
“políticas inclusivas” do governo e alinhar-se aos “politicamente corretos”.
O MEC deixou de lado o conhecimento linguístico e optou
pelo reforço da ideologia. Este fato é um acinte a todos que defendem a nossa
amada língua portuguesa, bem como “valiosa contribuição” para nos manter na
posição de 51º lugar entre 65 países pesquisados pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) quanto à leitura.
Os problemas apresentados nas redações como grafias
esdrúxulas do tipo: "rasoavel", "enchergar",
"trousse" são toleráveis por pedagogos e pseudo-conhecedores da
sociolinguística. Tais profissionais defendem os fatores sociais como preponderantes
sobre o sistema linguístico. Para eles, a condição socioeconômica do aluno é
fator suficiente para a aceitação de desempenho precário em linguagem.
Na área da sintaxe há pérolas como: “"Essas providências,
no entanto, não deve (sic) ser expulsão" e "os movimentos
imigratórios para o Brasil no século XXI é (sic)". Se a grafia
de palavras do vocabulário ativo apresentam disparates, com certeza, ninguém
vai se preocupar com problemas de concordância!
O assunto é tão sério que, se observarmos o que diz o
INEP, podemos ter certeza de que tais absurdos são plenamente previstos pela
banca corretora e recebem a chancela oficial. Declara uma autoridade do INEP:
“uma redação nota 1.000 deve ser sempre um excelente
texto, mesmo que apresente alguns desvios em cada competência avaliada. A
tolerância deve-se à consideração, e isto é relevante do ponto de vista
pedagógico, de ser o participante do Enem, por definição, um egresso do ensino
médio, ainda em processo de letramento na transição para o nível superior”.
O MEC está fechando as portas do futuro para os nossos
jovens. Não há como ficar indiferente ao absurdo que vigora no sistema
educacional brasileiro. Alguma medida deve ser tomada e, neste caso, o lógico é
anular estas correções absurdas e refazer os critérios. O MEC não perde
oportunidade de demonstrar a sua incompetência.
Leia mais: O ENEM e os "desvios" gramaticais
Leia mais: O ENEM e os "desvios" gramaticais
2 comentários:
Não é de se espantar ou esperar mais de um governo que se mantém no poder através de políticas publicas de financiamento, tenha uma postura ética e imparcial quanto a educação.
Mas fazer o que em um país onde MEC esta acabando com o intelecto nacional e sua população esta mais preocupada com os paredões de um BBB ou com os próximos capítulos de suas novelas.
Olá Charles,
realmente, vivemos uma situação inusitada, tudo desaba e a população está preocupada com o BBB.
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