domingo, 24 de março de 2013

O MEC é competente


A sucessão de fatos estranhos, ocorridos nos últimos tempos no MEC, leva as pessoas a considerar o Ministério da Educação como incompetente, porém um exame mais acurado, pode deslocar este conceito, evidenciando um projeto bem estruturado e muito competente, apenas inconfessável.
O escândalo da correção das redações do ENEM evidencia uma postura ideológica muito mais do que um caso de desorganização. Ninguém, de sã consciência, pode imaginar que os critérios de correção, por piores que sejam, possam motivar desvios tão grandes.
Com esta demonstração de desprezo com os princípios mínimos de metodologia da linguagem, o MEC causa grande prejuízo para o ensino de produção de texto. Como um professor poderá exigir que o aluno produza textos coerentes, tendo em vista casos tão deploráveis como os divulgados. Este mau exemplo do governo faz tábua rasa do esforço de professores de linguagem que, ao longo do tempo, buscam incentivar seus alunos a produzirem dissertações coesas e coerentes.
Textos com nível tão elevado de fragmentação e com erros crassos de grafia deveriam ser desclassificados; nunca receberem nota máxima. Não há manual de produção de texto que indique a possibilidade de redações incoerentes e desconexas serem consideradas excelentes. A falta de critério, demonstrada pelas bancas de correção de redação, evidencia propósitos mais imperiosos do que a construção do conhecimento linguístico.
Não há possibilidade de imaginar que um grupo tão grande de professores de português tenha tão parcos conhecimentos de linguagem. A razão lógica que se apresenta é terem sido submetidos a ordens superiores, mal intencionadas e movidas por propósitos estranhos. Há muito o MEC abandonou a construção do conhecimento e optou por posições ideológicas, alinhadas a setores arcaicos do pensamento esquerdizante.
O que se percebe é que interessa ao governo desestruturar o sistema educacional brasileiro para, provocando o caos, estabelecer uma nova ordem de acordo com ideologias alheias à nossa tradição democrática. Se para alguns, esta política do MEC parece irresponsável e incompetente, na verdade ela tem sido muito competente na construção da “revolução do povo”. Não há ingenuidade, nem desconhecimento, mas há, isto sim, um processo contínuo e sistemático de promoção de um sistema educacional comprometido com ideologia e não com conhecimento.
Assim como no campo social, este governo tem desenvolvido esforços para a promoção da “luta de classe”; no campo educacional, é fragrante o objetivo de implantar um modelo que sustente uma “revolução cultural” capaz de justificar certa estrutura de poder. Não há como entender, de outra maneira, o esforço contínuo de desqualificação do magistério e degradação dos mecanismos de controle e avaliação do sistema educacional. A prevalência da quantidade sobre a qualidade é muito mais do que um propósito populista, é a pressa na formação de uma extensa classe “pseudo intelectualizada” capaz de opor-se aos remanescentes portadores do conhecimento.
O governo não é ingênuo, muito pelo contrário, extremamente competente na luta por seus objetivos, tendo demonstrado eficiência na capacidade de silenciar ou cooptar as instâncias representativas dos professores de português e dos intelectuais da área de literatura. Diante de imensa barbárie, não ouvimos nenhuma voz que tenha protestado ou pelo menos demonstrado discordância.
O MEC é competente! Nós é que somos ingênuos e não nos posicionamos contra este processo espúrio de escalada do poder em direção a uma “nova ordem” social e econômica que, embora fracassada a nível mundial, é por aqui propalada como solução. Todos reconhecem que a educação é a base para o desenvolvimento de qualquer sociedade, mas, do mesmo modo, a sua desorganização permite a dominação eficiente.

Um comentário:

poetadasolidão disse...

Colega Odiomar!

Penso que além das questões ideológicas o MEC deixou correr à revelia a ação dos professores que, ao que parece não se preocuparam com os princípios da língua escrita. Penso que ao fazer o meu papel de professor formador de professores devo insistir na boa formação lingüística do aluno. Agora se o aluno vai escrever receita de miojo na redação do Enem e tira boa nota ai é outra questão.