A sucessão de fatos estranhos, ocorridos nos últimos tempos
no MEC, leva as pessoas a considerar o Ministério da Educação como incompetente,
porém um exame mais acurado, pode deslocar este conceito, evidenciando um
projeto bem estruturado e muito competente, apenas inconfessável.
O escândalo da correção das redações do ENEM evidencia uma
postura ideológica muito mais do que um caso de desorganização. Ninguém, de sã
consciência, pode imaginar que os critérios de correção, por piores que sejam,
possam motivar desvios tão grandes.
Com esta demonstração de desprezo com os princípios mínimos
de metodologia da linguagem, o MEC causa grande prejuízo para o ensino de
produção de texto. Como um professor poderá exigir que o aluno produza textos
coerentes, tendo em vista casos tão deploráveis como os divulgados. Este mau
exemplo do governo faz tábua rasa do esforço de professores de linguagem que,
ao longo do tempo, buscam incentivar seus alunos a produzirem dissertações coesas
e coerentes.
Textos com nível tão elevado de fragmentação e com erros
crassos de grafia deveriam ser desclassificados; nunca receberem nota máxima. Não
há manual de produção de texto que indique a possibilidade de redações
incoerentes e desconexas serem consideradas excelentes. A falta de critério,
demonstrada pelas bancas de correção de redação, evidencia propósitos mais imperiosos
do que a construção do conhecimento linguístico.
Não há possibilidade de imaginar que um grupo tão grande de
professores de português tenha tão parcos conhecimentos de linguagem. A razão
lógica que se apresenta é terem sido submetidos a ordens superiores, mal
intencionadas e movidas por propósitos estranhos. Há muito o MEC abandonou a
construção do conhecimento e optou por posições ideológicas, alinhadas a
setores arcaicos do pensamento esquerdizante.
O que se percebe é que interessa ao governo desestruturar o
sistema educacional brasileiro para, provocando o caos, estabelecer uma nova
ordem de acordo com ideologias alheias à nossa tradição democrática. Se para
alguns, esta política do MEC parece irresponsável e incompetente, na verdade
ela tem sido muito competente na construção da “revolução do povo”. Não há
ingenuidade, nem desconhecimento, mas há, isto sim, um processo contínuo e
sistemático de promoção de um sistema educacional comprometido com ideologia e
não com conhecimento.
Assim como no campo social, este governo tem desenvolvido
esforços para a promoção da “luta de classe”; no campo educacional, é fragrante
o objetivo de implantar um modelo que sustente uma “revolução cultural” capaz
de justificar certa estrutura de poder. Não há como entender, de outra maneira,
o esforço contínuo de desqualificação do magistério e degradação dos mecanismos
de controle e avaliação do sistema educacional. A prevalência da quantidade
sobre a qualidade é muito mais do que um propósito populista, é a pressa na
formação de uma extensa classe “pseudo intelectualizada” capaz de opor-se aos
remanescentes portadores do conhecimento.
O governo não é ingênuo, muito pelo contrário, extremamente
competente na luta por seus objetivos, tendo demonstrado eficiência na
capacidade de silenciar ou cooptar as instâncias representativas dos
professores de português e dos intelectuais da área de literatura. Diante de
imensa barbárie, não ouvimos nenhuma voz que tenha protestado ou pelo menos
demonstrado discordância.
O MEC é competente! Nós é que somos ingênuos e não nos posicionamos
contra este processo espúrio de escalada do poder em direção a uma “nova ordem”
social e econômica que, embora fracassada a nível mundial, é por aqui propalada
como solução. Todos reconhecem que a educação é a base para o desenvolvimento
de qualquer sociedade, mas, do mesmo modo, a sua desorganização permite a
dominação eficiente.
Um comentário:
Colega Odiomar!
Penso que além das questões ideológicas o MEC deixou correr à revelia a ação dos professores que, ao que parece não se preocuparam com os princípios da língua escrita. Penso que ao fazer o meu papel de professor formador de professores devo insistir na boa formação lingüística do aluno. Agora se o aluno vai escrever receita de miojo na redação do Enem e tira boa nota ai é outra questão.
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