sexta-feira, 19 de abril de 2013

Comemorar o Dia do Índio


Índio deixou de ser uma etnia para se tornar uma bandeira de lutas sociais. Os movimentos de esquerda passaram a utilizar a causa indígena em proveito de suas pregações políticas. Há muita lenda e poesia na análise da situação do índio no Brasil.
O índio é “dono da terra” é um chavão mais do que desgastado, pois na história da civilização sempre uma cultura se sobrepôs a outra. Os índios são tão donos do Brasil como os Assírios e Fenícios são do Oriente Médio, os Astecas do México ou os Apaches dos Estados Unidos. A civilização avança pela fusão de culturas e não pelo retrocesso ao primitivismo.
A população indígena no Brasil é 0,47% do total, porém as terras indígenas demarcadas ocupam 13,3% do território nacional. Não podemos falar em falta de terras para índios, mas falta de estrutura administrativa. Se a Funai, em vez de se preocupar com política, atendesse as populações indígenas, dando condições de desenvolvimento, com certeza a situação seria bem melhor. Não adianta distribuir terras para os índios alugarem, venderem ou entregarem à exploração internacional. O índio necessita terra para produzir, contribuir com a produção agrícola. Assim como dirigem carros e camionetas, podem dirigir tratores. Na hora de produzir são primitivos, mas na hora de usufruir da civilização são modernos, usam celular, TV via satélite e computador.
O discurso político criou a reserva Raposa do Sol (Roraima), expulsou antigos proprietários e implantou estabilidade jurídica. Os interesses escusos são tão evidentes que hoje os próprios índios locais reclamam do abandono. O governo conseguiu transformar os antigos e prósperos proprietários em párias e ao mesmo tempo deixou os índios abandonados à própria sorte, agravado pelo fato de que os vínculos entre brancos e índios foram rompidos, criando uma “luta de classe” bem ao gosto dos ideólogos do projeto.
A relação índio/selva não é uma realidade, pois em torno de 40% da população indígena vive nas periferias urbanas, o que significa que já deixaram, há muito, a vida na aldeia. Nada reprovável nisto, apenas é a desconstrução do discurso dos “antropólogos” que não reconhecem que o índio quer civilização, o índio quer ser integrado à sociedade brasileira e não isolado na selva! Integrar-se a uma nova sociedade não significa abandonar suas tradições, relegar seu passado, mas simplesmente acompanhar o desenvolvimento civilizatório.
Estes mesmos movimentos que falam em “proteção ao índio”, “preservação dos costumes” deixam de lado o estudo da linguagem. Hoje temos poucos grupos universitários preocupados com o mapeamento linguístico destas etnias. É uma riqueza linguística muito grande e valiosa que está a se perder por falta de incentivo de pesquisa. O que é sério e exige compromisso não tem apoio governamental, mas o que é discurso “politiqueiro” e irresponsável tem grandes verbas e logo se torna sucesso na mídia.
Há o que comemorar no dia do índio?
Há sim. Em primeiro lugar o discurso de extinção da raça indígena já não faz mais sentido. Na década de 90, do século passado, a população indígena cresceu 150%, seis vezes mais do que a taxa de crescimento do restante da população.
Há sim. O Brasil incorporou muito da cultura indígena em sua sociedade. A defesa do índio tem a simpatia da população que assimilou muito da culinária, das danças e do folclore. Nossa cultura é muito mais rica por isso e podemos ser reconhecidos no exterior pela miscigenação e não pela sistemática destruição das comunidades indígenas como ocorreu em outros países americanos.
Há sim. O índio está deixando de ser estranho à cultura brasileira e está passando por um processo de integração que resultará numa nova combinação social. Muitos índios estão cursando universidades, tornando-se profissionais capacitados e, assim, contribuindo para um novo Brasil. Felizmente, a imagem do índio como “bicho do mato” está ficando fora de moda, talvez para desespero dos “politiqueiros de plantão”.
Se no Dia do Índio você reconhecer os dois tipos de discursos: o dos aproveitadores da miséria indígena e o dos defensores de sua cultura, com certeza teremos muito para comemorar. Não há como comemorar uma data tão importante, misturando “joio com trigo”.

Leia mais:
Principais grupos indígenas: Ticuna (35.000), Guarani (30.000), Caiagangue (25.000), Macuxi (20.000), Terena (16.000), Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Ianomâmi (12.000), Pataxó (9.700), Potiguara (7.700)



Um comentário:

Odiombar Rodrigues disse...

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, participa da "dança da cura" com índios xavantes, no prédio do ministério. Cardozo anunciou mudanças na forma de demarcação de terras indígenas, para facilitar a criação de novas reservas. E assinou portarias declaratórias para demarcação das terras indígenas Guanabara e Cué Cué Marabitanas, no Amazonas, e Tremembé de Queimadas, no Ceará. Prometendo mudar a estrutura de demarcação e criar novas reservas, o ministro espera reduzir a tensão entre governo e índios, que, anteontem, ocuparam a parte externa do Planalto. Os índios protestam contra o projeto de transferir do governo para o Congresso o poder de decisão sobre demarcação de terras.