O tripé Ensino, Pesquisa e Extensão é o fundamento para
qualquer instituição que queira reconhecer-se e ser reconhecida como
Universidade. Infelizmente, as políticas educacionais não têm valorizado
adequadamente este aspecto, pois priorizam o ensino com o objetivo de alcançar
metas estatísticas. Dos três elementos, a pesquisa é a que possibilita a
progressão do conhecimento, pois, por natureza, não é reprodução de saber, mas
construção.
Na área das ciências exatas, o sentido de pesquisa é
perceptível com facilidade, pela possibilidade de visualização de produtos, mas
nas ciências humanas a situação torna-se um pouco difusa, pois o conhecimento,
em geral, não se materializa, permanece no campo da reflexão. O conhecimento,
neste caso, avança de forma lenta, superando etapas. Pensando assim, não
podemos falar em superação de um conhecimento humano, mas de sua evolução, pois
o que os gregos ensinaram é objeto válido para o pensamento contemporâneo.
Validar o saber, tendo prazos como critério é um desconhecimento total da
dinâmica evolutiva do conhecimento, é imaginar a ciência como produtora de “novidades”.
A pesquisa é o elemento capaz de produzir os elos entre etapas desta evolução,
por isso ela é o verdadeiro sentido de “universitatis”.
Pesquisa não é trabalho isolado de professores, mas projeto
permanente da instituição. O ambiente de pesquisa é prática que ultrapassa a
sala de aula, alcança o ambiente acadêmico com incentivos à participação em
projetos, divulgação em eventos e publicações. Criar condições para que os
alunos exponham os resultados de suas pesquisas em eventos nacionais e
internacionais é fator primordial para o estabelecimento de um clima acadêmico
voltado para a produção do conhecimento.
Não se pode falar em pesquisa, quando fatores limitantes são
impostos aos acadêmicos. O projeto de pesquisa nasce do interesse do
pesquisador e não do engajamento em temas pré-estabelecidos. Manter linhas de
pesquisa, como orientação aos jovens pesquisadores, é importante, mas limitar a
“curiosidade” do pesquisador é atitude altamente perniciosa. O único
compromisso de uma administração acadêmica deve ser com o avanço da ciência e
não com postulados ideológicos defendidos por grupos em seu interior.
Uma instituição de ensino superior pode destacar-se como produtiva
na formação de profissionais, contabilizados em números de formandos, pode
atingir grau de respeitabilidade pela qualidade de seu corpo docente, mas, se
sua produção acadêmica não acompanhar este patamar, com certeza, não merecerá
destaque no concerto das universidades. Alguns dados são interessantes.
A USP é a universidade brasileira melhor colocada no ranking
internacional, pois é a primeira em pesquisa embora sendo a sétima em termos de
ensino. É o conhecimento produzido por ela que lhe dá o “status” de melhor
universidade brasileira. A UFMG inverte a lógica, é a primeira em ensino, mas a
sexta em pesquisa. No Rio Grande do Sul, o destaque é da UFRGS que se posiciona
como a segunda em ensino e a quinta colocada em pesquisa. Estes números deixam
claro o valor da pesquisa em qualquer instituição de ensino superior. É
importante comentar que as três instituições são públicas e federais.
Acompanhemos o quadro I.
Quem analisa os dados do quadro I, percebe de imediato uma
curiosidade: as dez melhores universidades brasileiras são públicas. Isto não
causa nenhum espanto para quem convive no meio acadêmico. As universidades
públicas estão isentas de cobranças econômicas, podem direcionar seus esforços
apenas para educação, as particulares convivem com objetivos financeiros que
sobrepujam os educacionais.
Este mesmo ranking pode ser evidente quanto à situação no
Rio Grande do Sul. A PUC/RS apresenta uma particularidade é a quarta
universidade brasileira no quesito “avaliação de mercado”, porém apresenta um
desempenho fraco no Enade. Por outro lado a UFSM tem desempenho fraco como “avaliação
de mercado”, mas ostenta o oitavo lugar no exame do Enade. Levando em conta a
avaliação do MEC, podemos deduzir que a UFSM forma profissionais melhor
qualificados, mas tem pouca visibilidade no mercado de trabalho. Acompanhe os
dados no quadro II.
Mesmo sendo estranho para alguns, uma universidade é o local
de produção de conhecimento, ela não é (ou não deve ser) uma repetidora do já
conhecido, do saber canônico. Por esta razão ela é o espaço da pesquisa, dos
orientadores e orientandos, dos erros e dos acertos. A sala de aula, repleta de
alunos sentados, ouvindo professores falantes deveria ser cenário banido de
nossas universidades.
Outro detalhe importante, na área de pesquisa é o acesso ao
conhecimento disponível no mundo. É indispensável, a um pesquisador, o domínio
de línguas estrangeiras, pois este é o canal de comunicação com os
pesquisadores. Para nós, brasileiros, o mercado não considera o espanhol, pois
a língua de Cervantes já é contabilizada como sabida. O inglês é a língua
universal e fundamental, logo após francês, alemão e italiano formam um
conjunto de competências muito importante. O trágico é perceber que nossos
universitários aparecem nas avaliações de inglês, realizadas por instituições estrangeiras,
com o trigésimo oitavo lugar, com nota 4,9, bem atrás da Argentina que ocupa o
décimo quinto lugar.
Qualquer instituição de ensino superior que aspire o status
de universidade, deve estar atenta ao valor da pesquisa e consciente de que o
conhecimento não é construído com relógio ponto, autocracia e espaços
limitados. A pesquisa surge da dúvida, do diálogo e do confronto de posições.
Terreno fértil para o desenvolvimento da pesquisa é o acolhimento das
diferenças, a abertura para inovações e o respeito ao conhecimento adquirido.
Quadro I - Ranking das Universidades Brasileiras
Quadro II - Ranking das Universidades no Rio Grande do Sul
Quadro III - Desempenho em língua inglesa
Um comentário:
Ótima reflexao. Semana passada discutimos isso num seminário da PPPG - UNEB - onde tivemos embates sobre a interdisciplinaridades que a própria pesquisa requer.
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