quinta-feira, 25 de junho de 2015

Presidente, Presidenta ou Presidanta

As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo.
Ludwig Wittgenstein

Para iniciar a conversa, vamos dizer que a forma “presidenta” está registrada no VOLP. Depois deste registro podemos desenvolver nosso texto. Há uma discussão sem fim entre “petistas” e “não-petistas” sobre o acerto, ou erro, da presidente Dilma exigir o título de “Presidenta”. É uma opção, conforme registra o meu respeitado mestre Huouaiss[1], mas não deixa de ser estranho. Vejamos.
A gramática registra a categoria dos nomes “comuns de dois” que, tendo uma única forma, fazem distinção de gênero pela presença do artigo, como “o pianista” e “a pianista”, assim como aqueles nomes que são “sobrecomuns”, no caso de “criança” ou “testemunha”. Tudo isto são conhecimentos que adquirimos na quinta série. A linguagem vai produzindo mudanças aos poucos, ao longo da história e, muitas vezes, por caminhos tortuosos.
Vamos examinar, com mais detalhe o caso da “presidenta”. Já vimos que o dicionário registra esta grafia, mas é preciso aprofundar um pouco mais o caso. Ao recusar a forma “presidente” a senhora Dilma não reconhece gênero no termo e busca uma adaptação para concordância com ela. É simples entender que é algo estranho, pois o senhor Lula, nunca recusou o título, exigindo a forma “presidento”. Assim percebe-se que não é uma questão gramatical, mas de preferência pessoal.
O Manual de redação da Presidência da República[2] registra sempre o termo “presidente”. Podemos entender que não menciona “presidenta” porque foi redigido antes da primeira mulher ter assumido o cargo. Agora vamos retornar ao dicionário da ABL que conceitua os termos como: a) “presidenta”, mulher que exerce a presidência. b) “Presidente”, título oficial do chefe do poder executivo numa república presidencialista. De acordo com estes dois conceitos podemos dizer que “Presidente” é um título oficial, enquanto “presidenta” serve para o exercício da presidência em qualquer outro órgão ou empresa.
Um pouco de latim não prejudica. O termo “presidente” é oriundo do particípio presente do verbo “praesidere”, “presidens/presidentes”, que assume a forma substantiva para designar “aquele que governa”, portanto como forma verbal não tem gênero. No percurso do longo caminho até o uso contemporâneo, muitas mudanças de sentido foram produzidas.
Os nomes terminados em “e” (governante, estudante, militante, escrevente, chefe, e tantos outros) têm uma trajetória curiosa. Nesta jornada a língua fez algumas adaptações, manteve a forma original, ou flexionou, trocando o sentido. Governante evoluiu para governanta, trocando de sentido; estudante, escrevente e militante mantiveram a mesma forma e chefe flexionou com um certo tom pejorativo.
Agora vamos ao mais curioso. Os falantes conhecem muito bem a língua, mesmo não sabendo gramática. Diante da vontade de fazer crítica ou sátira deixam a flexão de lado e passam à composição de novos termos. É desta forma que surgem palavras como “presidanta” que une os termos presidente e anta, da mesma forma militante passa a ter uma variante, militonto que é a união de militante e tonto. A linguagem é instrumento fiel do pensamento do povo como bem percebe Ludwig Wittgenstein: “As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo”.




[1] AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss. São Paulo: Publifolha. 2008.
[2] Manual de redação da Presidência da República / Gilmar Ferreira Mendes e Nestor
José Forster Júnior. – 2. ed. rev. e atual. – Brasília : Presidência da República, 2002.

Um comentário:

Odiombar Rodrigues disse...

Seguindo a lógica do "Dilmês", idioma criado pela senhora Dilma, o Lula passa a ser o "Presidento".