As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu
universo.
Ludwig Wittgenstein
Para iniciar a conversa, vamos dizer que a forma
“presidenta” está registrada no VOLP. Depois deste registro podemos desenvolver
nosso texto. Há uma discussão sem fim entre “petistas” e “não-petistas” sobre o
acerto, ou erro, da presidente Dilma exigir o título de “Presidenta”. É uma
opção, conforme registra o meu respeitado mestre Huouaiss[1],
mas não deixa de ser estranho. Vejamos.
A gramática registra a categoria dos nomes “comuns de dois”
que, tendo uma única forma, fazem distinção de gênero pela presença do artigo,
como “o pianista” e “a pianista”, assim como aqueles nomes que são “sobrecomuns”,
no caso de “criança” ou “testemunha”. Tudo isto são conhecimentos que
adquirimos na quinta série. A linguagem vai produzindo mudanças aos poucos, ao
longo da história e, muitas vezes, por caminhos tortuosos.
Vamos examinar, com mais detalhe o caso da “presidenta”. Já
vimos que o dicionário registra esta grafia, mas é preciso aprofundar um pouco
mais o caso. Ao recusar a forma “presidente” a senhora Dilma não reconhece
gênero no termo e busca uma adaptação para concordância com ela. É simples
entender que é algo estranho, pois o senhor Lula, nunca recusou o título,
exigindo a forma “presidento”. Assim percebe-se que não é uma questão
gramatical, mas de preferência pessoal.
O Manual de redação da Presidência da República[2]
registra sempre o termo “presidente”. Podemos entender que não menciona
“presidenta” porque foi redigido antes da primeira mulher ter assumido o cargo.
Agora vamos retornar ao dicionário da ABL que conceitua os termos como: a)
“presidenta”, mulher que exerce a presidência. b) “Presidente”, título oficial
do chefe do poder executivo numa república presidencialista. De acordo com
estes dois conceitos podemos dizer que “Presidente” é um título oficial,
enquanto “presidenta” serve para o exercício da presidência em qualquer outro
órgão ou empresa.
Um pouco de latim não prejudica. O termo “presidente” é
oriundo do particípio presente do verbo “praesidere”, “presidens/presidentes”,
que assume a forma substantiva para designar “aquele que governa”, portanto
como forma verbal não tem gênero. No percurso do longo caminho até o uso
contemporâneo, muitas mudanças de sentido foram produzidas.
Os nomes terminados em “e” (governante, estudante,
militante, escrevente, chefe, e tantos outros) têm uma trajetória curiosa. Nesta
jornada a língua fez algumas adaptações, manteve a forma original, ou flexionou,
trocando o sentido. Governante evoluiu para governanta, trocando de sentido;
estudante, escrevente e militante mantiveram a mesma forma e chefe flexionou com
um certo tom pejorativo.
Agora vamos ao mais curioso. Os falantes conhecem muito bem
a língua, mesmo não sabendo gramática. Diante da vontade de fazer crítica ou
sátira deixam a flexão de lado e passam à composição de novos termos. É desta
forma que surgem palavras como “presidanta” que une os termos presidente e
anta, da mesma forma militante passa a ter uma variante, militonto que é a
união de militante e tonto. A linguagem é instrumento fiel do pensamento do
povo como bem percebe Ludwig Wittgenstein: “As fronteiras da minha linguagem
são as fronteiras do meu universo”.
Um comentário:
Seguindo a lógica do "Dilmês", idioma criado pela senhora Dilma, o Lula passa a ser o "Presidento".
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