Outro dia escrevi um texto, indignado com a falta de lógica
dos defensores de bandidos. Hoje surge mais um “post” no facebook com o mesmo
disparate. No texto anterior (Óleo
e água não se misturam) havia uma comparação infeliz, pois igualava
criminosos presos às vítimas do holocausto. Nada mais injusto para com o povo
judeu. Agora, ao comparar os negros escravos com bandidos de rua é uma outra
forma revoltante de buscar argumentos. Quem quiser defender bandido que o faça,
mas não ofenda judeus e negros, eles não merecem ser confundidos com
criminosos.
No afã de buscar argumentos, onde não há, encontram falácias
que deixam qualquer pessoa, de razoável compreensão da situação atual, em
estado de choque. Tomar posições é natural e salutar para o diálogo, mas
extrapolar o nível do razoável é indigno.
Leiam o texto que acompanha a imagem do “post”.
"Os 200 anos entre as duas cenas acima servem de
reflexão: evoluímos ou regredimos? Se antes os escravos eram chamados à praça
para verem com os próprios olhos o corretivo que poupava apenas os "homens
de sangue azul, juízes, clero, oficiais e vereadores", hoje avançamos para
trás. Cleidenilson da Silva, de 29 anos, negro, jovem e favelado como a imensa
maioria das vítimas de nossa violência, foi linchado após assaltar um bar em
São Luís, no Maranhão. Se em 1815 a multidão assistia, impotente, à barbárie,
em 2015 a maciça maioria aplaude a selvageria. Literalmente - como no subúrbio
de São Luís - ou pela internet. Dos 1.817 comentários no Facebook do EXTRA, 71%
apoiaram os feitores contemporâneos.")
"Bandido bom é bandido morto". "Se matou tem
que morrer mesmo". "Queria ver se fosse com o teu filho". Essas
são algumas frases que a gente costuma ler e ouvir nas redes sociais e nas
ruas. Essas são frases proliferadas por algumas "pessoas de bem", que
acham que a solução para acabar com a violência se encontra de imediato.
Essas mesmas "pessoas de bem" se tornam assassinos.
Isso mesmo. Ninguém que amarra uma pessoa pelas mãos, pernas e tronco em um
poste, mesmo que essa pessoa amarrada tenha cometido algum crime, é uma
"pessoa de bem" no sentido literal. É um assassino, sim. Quem acaba
com a vida alheia é assassino ("legítima defesa" é uma outra
situação). E agora, o que se faz com essas pessoas que lincharam Cleidenilson
da Silva, 29 anos? Pela lógica de algumas "pessoas de bem", deveriam
estar mortas. Mas, será que elas vão matar umas às outras?
E, por fim, se fosse o teu filho, "pessoa de bem",
que tivesse sido amarrado e espancado de forma covarde, fosse um criminoso...
Tu diria que "bandido bom é bandido morto"? Tu deixaria ele entrar na
tua casa?
Os defensores de bandidos, confundem tudo! O escravo que ia
ao tronco não havia colaborado em nada para a sua desgraça, era um inocente
que, por qualquer motivo, era castigado, muitas vezes até a morte. O algoz que
assim procedia, tinha poder. A segunda cena é uma defesa da sociedade contra um
bandido que se não for contido, é capaz de matar qualquer um dos que estão a
sua volta. A sociedade que está ali está premida pelo Estado omisso. A
sociedade tem de se defender, não é possível que os bandidos fiquem impunes,
nem é justo que sejam comparados com escravos inocentes.
É indigno que os defensores de bandidos não percebam que a
comparação é plenamente equivocada e desrespeitosa com a história e com os
escravos. É uma sandice comparar negros escravos com bandidos. Estas mesmas
vozes que propagam tal disparate, com frequência, arvoram-se defensores dos
negros e condenam o racismo. Como é possível assumir posições tão
contraditórias?
Filho de famílias decentes e equilibradas não vão para a
criminalidade, portanto não é correto perguntar ao leitor “se fosse um filho
seu”. A pergunta é desvairada. Há um argumento que corre entre estes apoiadores
da bandidagem, que é afirmar que todos somos criminosos! Isto é mais uma ofensa
contra a sociedade de bem. Criminoso é diferente de cidadão!
Pessoalmente não teria condições de partilhar de uma vindita
destas, mas compreendo perfeitamente os que assim procedem, pois já estão
cansados de serem massacrados por criminosos. A sociedade não acredita mais na
justiça, pois sabe que o bandido ficará impune. É uma ação de desespero e
desesperança. Hoje, o crime compensa e a justiça tarda e falha! Como agir com
ética, compreensão e amor ao próximo quando somos tratados da forma mais
bárbara possível.
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