sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O compromisso público

Nos últimos dias, a polêmica da extinção da Fundação Zoobotânica do estado é um tema que tem suscitado controvérsias. A penúria das finanças do estado tem sido apontada como motivação para tal, mas um exame mais detalhado mostra que é falsa, pois é inexpressivo o valor investido pelo governo diante de outros setores muito mais onerosos. Não sendo uma questão econômica, é uma questão política e por este lado passo a argumentar.
A sociedade brasileira vive um jogo desleal entre o populismo enganador e irresponsável de um lado e a insensibilidade e prevalência do lucro de outro. Ambos desconhecem que a função pública deve estar voltada para o bem-estar da população e a preservação do patrimônio de que ela é detentora. Nenhum governante tem o direito de dispor dos recursos da sociedade para atender interesses pessoais e políticos.
Quando alguém é eleito, passa a ser a esperança de uma comunidade, investe-se na função pública para defender os bens e a tranquilidade da sociedade. Não é possível que, uma vez empossado, possa titular-se senhor absoluto de um patrimônio que foi construído ao longo do tempo à custa dos impostos pagos pelos cidadãos. Um bem público tem a maior função social que podemos conceber.
A Fundação Zoobotânica administra três locais de grande interesse social: O zoológico de Sapucaia, o Museu de Ciências Naturais e o Jardim Botânico de Porto Alegre. Qualquer cidadão de olhar atento pode perceber o fluxo intenso de famílias que acorrem a eles como um refúgio das turbulências urbanas em busca do contato direto com a natureza. Quem já desfrutou de uma tarde de domingo por lá reconhece o benefício que obteve por estar diante de uma vida natural e preservada.
Ver as crianças correrem pelo campo do Jardim Botânico ou trilhar os caminhos do zoo, contemplar as aves e admirar a beleza das flores é algo que não pode ser medido em valores econômicos, fornecer à população este retorno de seus impostos é uma obrigação do governante, não é nenhuma benesse. Quem tem a coragem de negar aos nossos filhos este aprendizado e alegria? Que motivo torpe pode estar por trás de tamanha insensibilidade?
Na região metropolitana, que outro espaço preenche os requisitos de segurança, beleza e educação ecológica para levarmos nossos filhos? Em que local poderemos reunir nossas famílias em um passeio que, além de outas razões, fortalece os vínculos familiares? Negar estes espaços para a população é uma demonstração de falta de compromisso social e total alienação em relação aos anseios da população. Tanto se fala em democratização, em oportunidades, em inclusões e muito mais em termos de discursos políticos, mas na hora da prática o que passa a valer são posicionamentos ideológicos centrados em postulados como “estado mínimo” ou “eficiência do sistema privado em detrimento do compromisso público. Na verdade, o fator determinante não é econômico, mas o desejo de parecer “administrador competente”, mesmo encobrindo mazelas, como com CCs políticos que hoje são em torno de 1400! A FZB consome 0,045% do orçamento do Estado, enquanto só o gabinete do governador consome 0,22%.

Encerro, pedindo desculpas aos competentes cientistas que estão sendo massacrados por projeto tão insano, pois o meu objetivo foi trazer o debate para o campo social, deixando a ciência para os que dela entendem. Não há dúvida de que, além da função social destes dois espaços públicos, há a inestimável colaboração que trazem para a ciência. Fechar suas portas e mandar renomados cientistas para a rua é a atitude mais estúpida que um governante pode inscrever em seu currículo político, bem como não podemos esquecer de que esta mancha contaminará, além da biografia do governador Sartori, a de todos os deputados que lhe derem apoio. 

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