Nos últimos dias, a polêmica da extinção da Fundação
Zoobotânica do estado é um tema que tem suscitado controvérsias. A penúria das
finanças do estado tem sido apontada como motivação para tal, mas um exame mais
detalhado mostra que é falsa, pois é inexpressivo o valor investido pelo
governo diante de outros setores muito mais onerosos. Não sendo uma questão
econômica, é uma questão política e por este lado passo a argumentar.
A sociedade brasileira vive um jogo desleal entre o
populismo enganador e irresponsável de um lado e a insensibilidade e
prevalência do lucro de outro. Ambos desconhecem que a função pública deve
estar voltada para o bem-estar da população e a preservação do patrimônio de
que ela é detentora. Nenhum governante tem o direito de dispor dos recursos da
sociedade para atender interesses pessoais e políticos.
Quando alguém é eleito, passa a ser a esperança de uma
comunidade, investe-se na função pública para defender os bens e a
tranquilidade da sociedade. Não é possível que, uma vez empossado, possa
titular-se senhor absoluto de um patrimônio que foi construído ao longo do
tempo à custa dos impostos pagos pelos cidadãos. Um bem público tem a maior
função social que podemos conceber.
A Fundação Zoobotânica administra três locais de grande
interesse social: O zoológico de Sapucaia, o Museu de Ciências Naturais e o
Jardim Botânico de Porto Alegre. Qualquer cidadão de olhar atento pode perceber
o fluxo intenso de famílias que acorrem a eles como um refúgio das turbulências
urbanas em busca do contato direto com a natureza. Quem já desfrutou de uma
tarde de domingo por lá reconhece o benefício que obteve por estar diante de
uma vida natural e preservada.
Ver as crianças correrem pelo campo do Jardim Botânico ou
trilhar os caminhos do zoo, contemplar as aves e admirar a beleza das flores é
algo que não pode ser medido em valores econômicos, fornecer à população este
retorno de seus impostos é uma obrigação do governante, não é nenhuma benesse.
Quem tem a coragem de negar aos nossos filhos este aprendizado e alegria? Que
motivo torpe pode estar por trás de tamanha insensibilidade?
Na região metropolitana, que outro espaço preenche os
requisitos de segurança, beleza e educação ecológica para levarmos nossos
filhos? Em que local poderemos reunir nossas famílias em um passeio que, além
de outas razões, fortalece os vínculos familiares? Negar estes espaços para a
população é uma demonstração de falta de compromisso social e total alienação
em relação aos anseios da população. Tanto se fala em democratização, em
oportunidades, em inclusões e muito mais em termos de discursos políticos, mas
na hora da prática o que passa a valer são posicionamentos ideológicos
centrados em postulados como “estado mínimo” ou “eficiência do sistema privado
em detrimento do compromisso público. Na verdade, o fator determinante não é
econômico, mas o desejo de parecer “administrador competente”, mesmo encobrindo
mazelas, como com CCs políticos que hoje são em torno de 1400! A FZB consome
0,045% do orçamento do Estado, enquanto só o gabinete do governador consome
0,22%.
Encerro, pedindo desculpas aos competentes
cientistas que estão sendo massacrados por projeto tão insano, pois o meu
objetivo foi trazer o debate para o campo social, deixando a ciência para os
que dela entendem. Não há dúvida de que, além da função social destes dois
espaços públicos, há a inestimável colaboração que trazem para a ciência.
Fechar suas portas e mandar renomados cientistas para a rua é a atitude mais
estúpida que um governante pode inscrever em seu currículo político, bem como
não podemos esquecer de que esta mancha contaminará, além da biografia do
governador Sartori, a de todos os deputados que lhe derem apoio.
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